quinta-feira, 5 de julho de 2012

PROJETO BISPO DO ROSÁRIO

O projeto Bispo do Rosário será um núcleo de pesquisa sobre a vida e obra de Arthur Bispo do Rosário, acontecerão todas as segundas feiras das 19:00 as 22:00 H. a partir de agosto na Vila do Teatro, e resultará em um espetáculo gerado por esse núcleo com direção geral de Kadu Veríssimo.


Onde- Vila do Teatro - Praça dos Andradas - 36 - Stos-SP
Quando- todas as segundas a partir de Agosto de 2012
Como- inscrições pelo email  viladoteatrosantos@gmail.com

no email deve constar um breve currículo, carta de interesse e duas fotos.
(inscrições somente pelo email)
para maiores de 18 anos.

maiores informações acesse a página da Vila do Teatro no Facebook ou pelo email viladoteatrosantos@gmail.com


Sobre Arthur Bispo do Rosário 


 

 Arthur Bispo do Rosário
Com diagnóstico de esquizofrenia-paranóide, ele viveu recluso por meio século e morreu há 20 anos, mas sua obra atravessou os muros da instituição psiquiátrica e obteve reconhecimento
por Luciana Hidalgo


Arthur Bispo do Rosário perambulou numa delicada região entre a realidade e o delírio, a vida e a arte. No refúgio de sua cela no Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, o paciente psiquiátrico produziu mais de mil obras consagradas no mercado internacional de arte contemporânea. Criou um universo lúdico de bordados, assemblages, estandartes e objetos durante os mais obscuros períodos da psiquiatria – época dos eletrochoques, lobotomias e tratamentos violentos aplicados para o controle de crises. Sem se dar conta, Bispo não só driblou os mecanismos de poder no manicômio como utilizou sobras de materiais dispensados no hospital para criar suas obras, inventando um mundo paralelo, feito para Deus.

Dizia-se um escolhido do todo-poderoso, encarregado de reproduzir o mundo em miniaturas. Eram suas “representações”, afirmava. Paradoxalmente, as obras, que deveriam representar tudo o que havia na Terra acabariam reconhecidas como peças de vanguarda, incluídas por críticos em importantes movimentos artísticos. Sua arte genial chegou a representar o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, além de correr museus pelo mundo, a exemplo do Jeu de Paume, em Paris. Curiosamente, em vida, Bispo recusava o rótulo de “artista”, dado o caráter divino de sua tarefa. Mas a potência de sua obra ignora limites e até hoje atravessa fronteiras, transgredindo convenções e levando espectadores de todo o mundo ao encantamento.

A história da “loucura” de Bispo remonta à noite de 22 de dezembro de 1938, quando, aos 29 anos, conduzido por um imaginário exército de anjos, andou pelas ruas do Rio com um destino certo: ia se “apresentar” na igreja da Candelária, no centro. Peregrinou pelas várias igrejas enfileiradas na rua Primeiro de Março e terminou no Mosteiro de São Bento, onde anunciou a uma confraria de padres que era um enviado, incumbido de “julgar os vivos e os mortos”. Detalhes dessa narrativa, meio real meio ficcional, constam de um estandarte bordado por Bispo, uma das belas peças de sua vasta obra, que mistura autobiografia e autoficção. É nesse estandarte que Bispo registra a frase-síntese de sua vida e obra Eu preciso destas palavras – Escrita. A palavra tinha para ele status extraordinário, por isso seus bordados estão repletos de nomes de pessoas, trechos poéticos, mensagens.

O dia 24 de dezembro de 1938 foi um divisor de águas psíquico para Bispo. Era Natal, ele se convertia na figura de Jesus Cristo, mas acabaria sob o domínio da psiquiatria. Interditado pela polícia dois dias após a sua “anunciação”, foi enviado ao Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, onde rótulos não tardariam a marcar sua ficha: negro, sem documentos, indigente.

Luciana Hidalgo é jornalista, escritora e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ), onde leciona no Departamento de Letras, com bolsa de pós doutorado (Faperj). É autora de Arthur Bispo do Rosario – O senhor do labirinto (ed. Rocco/Prêmio Jabuti 1997) e Literatura da urgência – Lima Barreto no domínio da loucura (ed. Annablume, 2008).
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/as_artes_de_arthur_bispo_do_rosario.html

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